Márcio Luna

29 04 2010

Márcio Luna é historiador pela Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP e especialista em História do Séc. XX pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. Atualmente, integra a equipe do Memorial Luiz Gonzaga, atuando na coordenação do setor educativo.

Sobrinho de D. Cristina, famosa brincante e presidente de populares agremiações do Recife, Márcio, entrou desde cedo em contato com a riqueza do Carnaval, brincando e compondo o cenário da festa.

É dessa formação plural que resultou o interesse do historiador por uma das maiores personalidades do Nordeste. Márcio dedicou-se durante dois anos ao estudo da biografia e obra discográfica do Rei do Baião, Luiz Gonzaga. Traçando a construção identitária do sertanejo através das composições deste pernambucano que se eternizou na música nacional.

Dando continuidade às entrevistas dos palestrantes da Diálogos III… peregrinações e cotidianos da fé: um beato, um santo e o homem, trazemos a entrevista do historiador Márcio Luna que, no último 22 de Abril, falou  sobre a religiosidade na composição do universo do sertanejo. 

 

1.      MÁRCIO, SUA PESQUISA BUSCA IDENTIFICAR COMO A DIVERSIDADE CULTURAL CONTRIBUI NA CONSTRUÇÃO DAS IDENTIDADES INDIVIDUAIS E COLETIVAS, A  PARTIR DE REPRESENTAÇÕES DO SERTÃO NORDESTINO NA DISCOGRAFIA DE LUIZ GONZAGA. BASEADO NESTA AFIRMATIVA, QUAIS SERIAM OS CONCEITOS DE IDENTIDADE QUE SÃO REFERENDADOS EM SEU TRABALHO?

Não podemos esquecer que as identidades são construídas por vários aspectos que envolvem a sociedade, isso faz com que tanto na individualidade quanto na coletividade símbolos e representações sejam fortemente trabalhados na construção da mesma, o que fortalece os conceitos representativos que podem ser percebidos nos hábitos que permeiam a vida do homem sertanejo. A religiosidade, por exemplo, tem um papel importantíssimo para essa construção, acompanhada por outros aspectos sociais e culturais como vestimentas e modos de vida que parecem comuns no dia-a-dia, porém são perceptíveis como referenciais dos sujeitos. 

 2.      ALÉM DAS REPRESENTAÇÕES DO SERTÃO NORDESTINO TRABALHADAS NA DISCOGRAFIA DO LUIZ GONZAGA, QUAIS OUTRAS PODERIAM SER FALADAS, BASEADAS EM PRODUÇÕES DE OUTROS EXPOENTES MUSICAIS, COMO JAKSON DO PANDEIRO?

O Brasil é um país muito rico culturalmente o que nos possibilita um contato não só com a obra discográfica de Luiz Gonzaga, mais também com outros grandes artistas nordestinos como Jackson do Pandeiro, Marinês, Dominguinhos e tantos outros que representam este celeiro musical. Esses ícones trazem nas suas obras o retrato do Nordeste brasileiro tanto nos aspectos positivos quanto os negativos, assim representam o seu povo. 

 

 3.      A PRODUÇÃO MUSICAL DE LUIZ GONZAGA SE ESTABELECE ATÉ MEADOS DA DÉCADA DE 70. POR QUE, ENTÃO, O RECORTE HISTÓRICO DE 1945 Á 1956 ESCOLHIDO EM SUA PESQUISA?

O recorte temporal da pesquisa foi definido decorrente de dois fatos de extrema importância na carreira de Luiz Gonzaga. No ano de 1945 ele canta a primeira música “Dança Mariquinha”, de ritmo mazurca, música de Luiz Gonzaga e Miguel Lima, lançada no disco de 78 rpm nº 800281, lado a. Mesmo começando a fazer sucesso em 1941 com a música “Vira e Mexe” instrumental. Quanto ao ano de 1956, como fim do recorte se dá pela gravação das músicas “Baião de Dois e Paraíba”, que foram gravadas em japonês o que fez com que a música nordestina ultrapassasse os limites ocidentais.

 4.      O SEU TRABALHO, POR SE TRATAR DE UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA, ABORDA AS FORMAS PELAS QUAIS A SOCIEDADE NORDESTINA APROPRIAVA-SE DA MÚSICA DO GONZAGA, PERGUNTO ENTÃO SE HAVERIA – EM FASE DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO IMATERIAL DEIXADO PELO REI DO BAIÃO – A APROPRIAÇÃO DAS MÚSICAS DO REI POR PARTE DOS JOVENS DESTA DÉCADA E QUAIS SERIAM ESSAS FORMAS?

Percebo a música de Gonzaga uma música muito atual, o que possibilita não só sua presença no cotidiano da sociedade como também como uma musicalidade cheia de propostas. Vale apena lembrar que no início dos anos 40 do século passado Luiz Gonzaga surgiu como a “voz do Nordeste” contribuindo assim na construção não só da identidade do povo sertanejo, más também na construção da identidade nacional que por sua vez estava vivenciada em outros gêneros musicais estrangeiros. O Legado deixado por Gonzaga pode ser visto pelos jovens como uma obra que identificou o Nordeste brasileiro, tornando o conhecido contribuindo para nosso reconhecimento.

Lembramos que no próximo dia 05 de Maio, às 19 horas, teremos a Diálogos IV…imagens, com a presença dos palestrantes: Maria Alice Amorim(Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP), Jamerson Kemps(Mestre em Antropologia pela UFPE) e Marcelo Feitosa(Autor do projeto fotográfico Festa Santa-parte das imagens que compõem a exposição Caminhos do santo, do MAP).

O que | Caminhos do santo | Diálogos IV… imagens

Quando | 05 de Maio de 2010, quarta-feira, às 19 horas.

Onde | Auditório da Livraria Cultura, Bairro do Recife

Promoção | Museu de Arte Popular – MAP

Quanto | Grátis

Informações | 3232-2803 / 3232-2969