Último encontro 2010! Diálogos VIII…Yabá: a mulher e o sagrado + lançamento de “As Gueledés – a festa das máscaras”

8 11 2010

Último encontro 2010 da série Diálogos..., do MAP, com lançamento de livro voltado ao público infantil.

No ano de 2010, o Museu de Arte Popular (MAP), vinculado à Fundação de Cultura Cidade do Recife, deu início a uma série de debates que chega agora em sua oitava edição, a Caminhos do santo | Diálogos…, sendo esta a última edição deste ano. Ao longo do ano, o MAP promoveu debates sobre diversos assuntos suscitados pela mostra Caminhos do santo, atual exposição do museu, como a mesa de 7 de abril, que abordou a Menina-sem-nome e as cruzes de estrada, através de um curta e um documentário, além da visão da folkcomunicação sobre fenômenos como estes. Ainda em abril, no dia 22, tivemos uma mesa com três historiadores, trabalhando o personagem de Meu Rei, o santo não-canônico São Severino do Ramos e o imaginário religioso do homem sertanejo. Em maio foi a vez das imagens das romarias tomarem a mesa, através do Padre Cícero e do Morro da Conceição. Em agosto, mês das assombrações, caçamos os fantasmas e as lendas urbanas do Recife. Setembro foi o mês em que o teatro e a religião se encontraram na Diálogos. Em outubro, em parceria com o FIDR, abordamos a dança de rua, uma nova expressão de arte popular, urbana e atual. E agora, em novembro, como é de praxe, este debate terá como ponto de partida um tema ligado a exposição e ao momento da cidade e do mundo.

No dia 19 de novembro de 2010, teremos Caminhos do santo | Diálogos VIII…Yabá, a mulher e o sagrado, no auditório da Livraria Cultura, às 18:00 horas. Teremos como conferencista o pesquisador de cultura afro-brasileira Raul Lody, autor de obras como Dicionário de Arte Sacra e técnicas afro-brasileiras ; O Negro no Museu Brasileiro: construindo identidades ; Santo também come ; Povo do Santo – Religião, História e Cultura dos Orixás, Voduns, Inquices e Caboclos ; e também do livro infantil Seis Pequenos Contos Africanos. Raul também atua como curador da Fundação Gilberto Freyre (PE), da Fundação Pierre Verger (BA), do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CE), Museu do Folclore (SP) e é Doutor em Etnologia pela Universidade de Paris.

Para fechar este ano com “chave de ouro”, o MAP aproveitará o contexto do 20 de novembro, comemorado como o dia da consciência negra, data escolhida em homenagem a morte de Zumbi dos Palmares. Hoje, as comemorações tomam todo o mês de novembro e no dia 19, o MAP trabalhará o papel da mulher nas religiões afro-brasileiras. E ainda reconhecendo e afirmando o museu como um espaço de formação, colaboração e difusão de saberes, o Museu de Arte Popular promoverá, em parceria com a editora Pallas e a Livraria Cultura, o lançamento do livro voltado para o público infantil: As Gueledés – A Festa das Máscaras, de autoria do curador, antropólogo, etnólogo e museólogo Raul Lody que também assina as ilustrações da publicação. O livro infantil explica o ritual secular das Gueledés, festa anual onde os homens iorubás contam a história das Senhoras da Noite (Iás na tradição iorubá) que formaram uma sociedade secreta para tomar o mundo.

Gueledés convite

O que | Caminhos do santo | Diálogos VIII… Yabá, a mulher e o sagrado. Encerramento da série Diálogos 2010 e lançamento do livro Gueledés.

Quando | 19 de novembro de 2010, sexta-feira, às 18 horas.

Onde | Auditório da Livraria Cultura

Promoção | Museu de Arte Popular – MAP

Quanto | Grátis

Informações | 3355-3110 / 3355-4720

Para entrar em contato com o setor de Pesquisa e Cultura: pesquisamap@hotmail.com

Para entrar em contato com o setor Educativo e Cultura: educativomap@hotmail.com

Para contatos em geral: museudeartepopular@hotmail.com

Raul Lody| Doutor em Etnologia pela Universidade de Paris, atual Sorbonne, Raul Lody é curador da Fundação Gilberto Freyre em Recife (PE), da Fundação Pierre Verger em Salvador (BA), do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura em Fortaleza (CE), Museu do Folclore em São José dos Campos (SP). É autor de dezenas de livros, incluindo À Mesa com Gilberto Freyre, Xangô – O senhor da casa de fogo e Cabelos de Axé – Identidade e Resistência.

Coordenação de Mesa

Fábio Carvalho | História, UFPE e Coordenador de Pesquisa do Museu de Arte Popular.

Realização | Museu de Arte Popular





Caminhos do santo | Diálogos VI… teatrais

14 09 2010

Dia 16, quinta-feira, na Livraria Cultura, sexto encontro da série Caminhos do santo | Diálogos...

O Museu de Arte Popular, vinculado à Fundação de Cultura Cidade do Recife, promoverá o sexto encontro da série Caminhos do santo | Diálogos…, tendo como ponto de partida os assuntos suscitados na mostra Caminhos do santo, sua exposição atual.

Reconhecendo e afirmando o museu como um espaço de formação, colaboração e difusão de saberes, o MAP promoverá um debate abordando os caminhos da fé, do teatro e do popular, como se cruzam e formam uma estreita rede de (re)significações.

No dia 16 de Setembro, teremos: Caminhos do santo | Diálogos VI… teatrais. O debate contará com a presença do professor, pesquisador e dramaturgo, João Denys Araújo Leite, além da atriz e produtora cultural Galiana Brasil, que coordena o projeto nacional Palco Giratório, do SESC.

O que | Caminhos do santo | Diálogos VI… teatrais.

Quando | 16 de Setembro de 2010, quinta-feira, às 19 horas.

Onde | Auditório da Livraria Cultura, Bairro do Recife

Promoção | Museu de Arte Popular – MAP

Quanto | Grátis

Informações | 3355-3110 / 3355-4720

MAP: museudeartepopular@hotmail.com

Para entrar em contato com o setor de Pesquisa e Difusão Cultural: pesquisamap@hotmail.com

Para Agendamentos de grupos com o setor Educativo e Cultural: educativomap@hotmail.com

Serão emitidos certificados aos ouvintes


João Denys Araújo Leite | Professor e pesquisador do Departamento de Teoria da Arte e Expressão Artística, da Universidade Federal de Pernambuco. Encenador, dramaturgo, cenógrafo, figurinista, aderecista, maquiador e iluminador, é mestre em Teoria da Literatura, pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPE. Sua dissertação, Um teatro da morte: transfiguração poética do Bumba-meu-boi e desvelamento sociocultural na dramaturgia de Joaquim Cardozo, foi agraciada com o Prêmio Jordão Emerenciano, de Ensaio, do Conselho Municipal de Cultura em 2002. Publicou ainda a Trilogia do Seridó, que consta das peças Deus danado (1993), Flores D’América (2005) e A pedra do navio (1979). Suas encenações mais recentes são O funâmbulo, de Jean Genet (2005), O canto do teatro brasileiro, de sua autoria (2005), Encruzilhada Hamlet, de sua autoria (2009), que recebeu seis prêmios no Festival Janeiro de Grandes Espetáculos, inclusive o de melhor direção e melhor cenografia, e Os fuzis da senhora Carrar, de Bertolt Brecht (2010).  Seu foco de pesquisa nos últimos dez anos tem sido a dramaturgia de Joaquim Cardozo, a dramaturgia de Hermilo Borba Filho, Processos de criação dramatúrgica e Composição de textos teatrais.

Galiana Brasil |Atriz e produtora cultural. É especialista em Ensino de Arte pela Universidade Federal de Pernambuco. Tem atuado desde 2000 como Ténica de Artes Cênicas do SESC-Pernambuco, onde coordena o projeto nacional Palco Giratório – Rede Sesc de Difusão e Intercâmbio das Artes Cênicas .

Coordenação de Mesa

Fábio Carvalho | História, UFPE.

Realização | Museu de Arte Popular





8º Semana Nacional de Museus

14 05 2010

           

 

O Museu de Arte Popular e o Memorial Luiz Gonzaga, durante o período de 17 a 21 de Maio, vivenciarão a 8ª Semana Nacional de Museus, que tem por tema, “Museus para a Harmonia Social”. Oportunizando o eixo temático proposto, resolvemos trabalhar os espaços museais como locais inclusivos junto a um público de pessoas com deficiência, mobilidade reduzida e jovens em vulnerabilidade social.

            Ao final da semana, para debater teorias e políticas efetivas, no concernente à acessibilidade em museus e outras instituições culturais, o MAP e o MLG promoverão uma mesa de debates, no Teatro Hermilo Borba Filho, no dia 21 de Maio, às 16:00 horas, contando com a presença dos seguintes palestrantes: Antônio Muniz da Silva (Assessor da Secretaria de Assistência Social), Eleonora Pereira (Assessora Política da Casa de Passagem), José Nunes Júnior (Gestor Administrativo da AACD), Vitória Barros (Gerencial de Medida de Semi-liberdade), Rebeca Oliveira (Observatório Negro). Márcio Luna (Coordenador Educativo do Memorial Luiz Gonzaga) e Daniel Barreto (Coordenador Educativo do Museu de Arte Popular) serão os coordenadores da mesa.

 *Mesa-debate de encerramento da semana de museus

Quando | Dia 21 de Maio, sexta-feira, às 16 horas

Onde | Teatro Hermilo Borba Filho, Rua do Apolo, 121, Bairro do Recife

 Sobre os palestrantes

1. José Nunes Júnior | Bacharel em Direito, pós-graduado em Gestão de recursos Humanos, Ex-executivo do Grupo Votorantim, BCP Telecomunicações (atual Claro), e Grupo Pão de Açúcar. Gestor Administrativo da AACD desde janeiro 2009.

2. Eleonora Pereira | Articuladora Política da ONG Casa de Passagem,
Conselheira Estadual de Direitos Humanos,
Coordenadora da Rede de Combate ao Abuso e Exploração Sexual do Estado e
Ex-presidente do Conselho Estadual da Criança e do Adolescente.

 

3. Antônio Muniz da Silva | Graduado em Biblioteconomia e Pedagogia pela UFPE, com especialização em Educação Especial pela FAFIRE, foi diretor do Centro de Reabilitação e Educação Especial – CREE Recife, (1999/2001), foi Presidente do Conselho Deliberativo da CEAD (1998/2002), foi Coordenador da Coordenadoria Municipal para Integração da Pessoa com Deficiência – CORDE – Recife (2001/2005). Atualmente é Presidente da Associação Pernambucana de Cegos – APEC, tendo sido eleito em 27 de janeiro de 2007 e representou as Pessoas com Deficiência Visual no Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência – CONED (2004/2008). É membro da Comissão de Políticas Públicas e Delegado por Pernambuco da Organização Nacional de Cegos do Brasil – ONCB.

4. Vitória Barros | Pós-graduada em Gestão Pública. Gerente da Gerencial de Medida de Semi-liberdade. Professora de Educação Física.

5. Rebeca Oliveira | escritora, advogada e cientista política, com especialização em direitos humanos. Atua na organização da sociedade civil Observatório Negro e é pesquisadora em direitos humanos, cidadania e desigualdades raciais.

Museu de Arte Popular

Pátio de São Pedro | Casa 49

São José | Recife | PE





USE SEUS MUSEUS | 16 de Maio de 2010

14 05 2010

> Na tarde do domingo dia 16 de maio vários museus de Pernambuco estarão abertos gratuitamente celebrando a Semana Nacional de Museus, cujo tema deste ano é Museus Para a Harmonia Social. A campanha Useu Seus Museus, promovida pelo Fórum dos Museus de Pernambuco com patrocínio da Caixa, da Prefeitura de Olinda e apoio da FUNDARPE.
>
> Veja a lista de museus participantes no endereço http://forumdosmuseusdepernambuco.com.br
 
O Museu de Arte Popular fará parte da campanha USE SEUS MUSEUS, promovida pelo Fórum dos Museus de Pernambuco, abrindo no domingo, 16 de Maio, das 13:00 às 17:00 horas.
 
Em cartaz com a mostra Caminhos do santo, o MAP traz um passeio por algumas nuances da religiosidade popular do Nordeste do Brasil. Com obras de Maria Amélia, Maluco Filho, Lídia Vieira, Zé Caboclo, Zé do Carmo, dentre outros artistas. O trabalho do fotógrafo Marcelo Feitosa, realizado nas romarias do Juazeiro do Norte, no Ceará e do Morro da Conceição, no Recife.
 
No Pátio de São Pedro, além do MAP, estarão abertos o Memorial Luiz Gonzaga, o Memorial Chico Science e o Mamam no Pátio.
 
 
USE SEUS MUSEUS
Quando | 16 de Maio, Domingo, das 13 às 17 horas
 
Museu de Arte Popular
Pátio de São Pedro | Casa 49
São José | Recife | PE
(81) 3232 – 2803 / 3232 – 2969
https://museudeartepopular.wordpress.com/





Uma fotografia do Marcelo

4 05 2010

Marcelo Feitosa é carioca. Pernambucano por parte de mãe, aprendeu cedo o sabor e o calor da cidade do Recife, e por aqui resolveu ficar. Multifacetado e cosmopolita se abriga em duas profissões, ora preocupa-se com sua microempresa, ora se deleita em seus ensaios fotográficos, ainda dividindo-se entre Recife e Curitiba, terra de sua namorada. Fotógrafo autodidata com especialização em fotografia digital, enveredou pelo caminho de cristalizar momentos em fotos artísticas e documentais, tendo assim, participado e ganhado vários prêmios na área. Em seu mais recente trabalho, “Festa Santa”, este fotógrafo que descobre Recife e agora Recife o descobre, presenteia a todos com um paralelo entre dois locais votivos (Juazeiro do Norte – CE e Morro da Conceição – PE), fazendo -com isso- um retrato da fé e dos aspectos comportamentais dos romeiros de ambos os locais de peregrinação. Sua preferência por uma estética de imagem em preto e branco, torna seus clicks atemporais e desafia a cronologia dos próprios fatos retratados, além de possibilitar uma observação serena e tranqüila, que abre caminhos para olhares e interpretações múltiplas. Como pequenos ensaios dentro de uma grande imagem, suas fotos são ricas e parecem correr para um infinito de sensações, histórias e experiências.

Confira abaixo a entrevista deste grande profissional, que tem seu trabalho(Festa Santa) exposto na atual exposição do MAP “ Caminhos do santo”. Você está esperando o quê para conferir?

ENTREVISTA

1. Por que o interesse em trabalhar a religiosidade popular?

Procissões e romarias guardam nossas origens cristãs. Os portugueses devotos, nossos colonizadores, interessados na difusão da fé, nos legaram um calendário repleto de datas santas. A religiosidade é uma herança cultural fortemente presente no cotidiano do povo brasileiro, principalmente do povo nordestino. Meu interesse com esse trabalho foi buscar a compreensão de como essa herança influencia a vida desse povo e como ela é determinante na caracterização dos hábitos e costumes, não apenas do sertanejo, mas de todo o povo nordestino.

2. Qual a estética utilizada em seu trabalho?

Optei por realizar as fotografias em preto & branco por achar que seria a melhor maneira de retratar a dramaticidade das imagens. Além disso, resolvi “envelhecer” as fotos usando um tom amarelado durante o processo de edição. Minha intenção é passar a idéia de atemporalidade das cenas.

3. Há no Nordeste um grande número de locais votivos. Por que a preferência por trabalhar Juazeiro do Norte e Morro da Conceição?

Festa Santa é um estudo comparativo. Escolhi esses locais por estarem em regiões distintas e serem antagônicos. Juazeiro do Norte fica no sertão cearense, o que caracteriza uma romaria rural; já o  Morro da Conceição fica na região metropolitana da cidade do Recife, caracterizando uma romaria urbana. A proposta do projeto é fazer uma análise comportamental dos devotos nas duas romarias e observar as diferenças e, ou, semelhanças existentes entre elas.

4. Seu trabalho parece configurar um retrato da fé de dois locais votivos que ora dialogam e ora se repelem. Nesta concepção, quais seriam os aspectos de semelhança e também os de singularidade entre Juazeiro e o Morro?

Meu trabalho consiste em lançar um olhar sobre tudo o que acontece nas romarias desses dois grandes centros votivos, buscando compreender, não só a fé, mas também a relação de interação entre romeiro e romaria. Devemos pensar em romaria como sendo um grande evento festivo. A fé que motiva os peregrinos em suas devoções é a mesma que os faz transformar a romaria em um momento de lazer. Quanto às semelhanças e diferenças entre Juazeiro e o Morro da Conceição, fica claro que os símbolos de devoção são praticamente os mesmos nas duas regiões, com cenas de pagamento de promessas, devoção, filantropia e orações sendo uma constante nos dois locais. A principal diferença entre as duas festas é o aspecto comportamental dos devotos: enquanto em Juazeiro os fiéis geralmente cumprem todo o calendário festivo, em peregrinações que duram dias, no Morro da Conceição os devotos limitam-se, geralmente, a pagar suas promessas e fazerem suas orações, numa única visita ao local de devoção.

5. As pesquisas referentes ao Padre Cícero revelam um homem de múltiplos interesses e muitos deles não correspondentes a uma figura religiosa. Através de suas pesquisas, como você percebe e retrata a figura deste mito nordestino?

Baseado em minhas pesquisas, entendo a figura do Padre Cícero como sendo a de um homem profundamente comprometido com questões sociais, além das religiosas. Proibido de exercer suas funções sacerdotais devido ao episódio do milagre da hóstia, Padre Cícero achou na política a maneira mais adequada de exercer sua liderança junto ao povo. Ao retratar as romarias em Juazeiro do Norte, busquei mostrar, através de imagens, o poder dessa liderança e expor a enorme influência que ele exerce na região até hoje. A questão que motivou o meu trabalho é analisar e tentar compreender as conseqüências geradas por esses interesses e que importância tiveram na construção sociopolítica da região. Acredito que considerar os múltiplos interesses de Padre Cícero como antagônicos a uma figura religiosa não dá conta de explicar a permanência da imagem do Padre Cícero junto ao povo nordestino. Penso que foram as várias ações de Padre Cícero, a sua atuação em diferentes campos, que contribuíram para a construção da sua imagem. Os múltiplos interesses de Padre Cícero podem ser um caminho para nos ajudar a compreender a complexidade das relações sociais de Juazeiro do Norte naquele momento.

6. Algumas de suas fotos, expostas na mostra “Caminhos do Santo”, revelam o sagrado e o profano atuando no mesmo espaço. Habitualmente, ensaios fotográficos trabalham estes dois aspectos de forma dual. Por que sua preferência por trabalhá-los imbricados?

Em meu ensaio fotográfico não parti de conceitos apriorísticos para entender as romarias e os romeiros, mas procurei apresentar um registro fotográfico dos eventos e das cenas do cotidiano que ocorrem durante as romarias em Juazeiro do Norte e Morro da Conceição. Não houve, da minha parte, qualquer preocupação de distinção entre o que seria sagrado ou profano. O foco do trabalho é a própria festa em si.

A partir de que critério podemos afirmar que determinada ação praticada por um devoto durante o ciclo festivo das romarias deve ser considerado algo profano? É preciso levar em consideração o fato de que, sob o ponto de vista de um romeiro, a prática do lazer durante as festividades, se não é algo sagrado, também não é profano. É apenas algo que está presente e acessível, uma distração permitida segundo seus próprios conceitos, e de certa forma, até compreensível devido ao forte caráter de confraternização presente nesses locais votivos.

7. Ao fazer o retrato da fé, suas lentes acabam por captar instituições religiosas muitas vezes disfuncionais. Seria esta também uma finalidade do seu trabalho? Se não, como explicar este fato?

Como expliquei anteriormente, a finalidade do meu trabalho foi criar um estudo comparativo entre os romeiros de duas regiões distintas e observar as diferenças e, ou, semelhanças existentes entre eles. Claro que esta observação está sujeita a inúmeras interpretações e podem nos levar a conclusões inusitadas. Nos grandes centros votivos, nada é mais marcante, determinante, presente e unânime do que as manifestações de fé. Ela é a principal motivação das peregrinações, o grande incentivo e, muitas vezes, o único alento que acompanha os devotos em sua jornada. A fé é a própria razão da existência dos festejos santos, restando à igreja o papel secundário de apenas conduzir esses festejos. As instituições religiosas se tornam disfuncionais por aceitarem essa condição de agentes secundários, se eximindo assim, de qualquer responsabilidade ou obrigação com o bem-estar dos devotos.

8. Diante de outros trabalhos referentes ao Morro da Conceição e a Juazeiro do Norte, o que ainda há a se retratar nestes dois locais?

A religiosidade é um tema que há muito tempo fascina fotógrafos, não apenas do Brasil, mas de todo o mundo. São vários os trabalhos já realizados por nomes consagrados, como Sebastião Salgado, Evandro Teixeira, Tiago Santana, Paulo Leite e tantos outros. No meu caso em particular, escolhi Juazeiro do Norte e Morro da Conceição devido ao meu estudo comparativo, mas acredito que ainda há muito estudo que pode ser desenvolvido, não apenas nesses dois centros votivos, mas em centenas de outros espalhados pelo Brasil. Cada romaria guarda sua origem, sua história e sua especificidade. Ainda temos muito a aprender sobre a cultura brasileira por meio do olhar sobre os festejos santos. Esse é um universo rico em tradições e fonte inesgotável de temas a serem retratados.

Marcelo  Feitosa | Fotógrafo autodidata, premiado em Brasília, especializado em fotos digitais, com curso de tratamento digital, ministrado pela Cia. Da Foto (SP). Autor de projetos como Cuba, exibido durante a IV Mostra Recife de Fotografia e o Festa Santa, trabalho que compõe a mostra Caminhos do santo, no Museu de Arte Popular.

O que | Caminhos do santo | Diálogos IV… imagens

Quando | 05 de Maio de 2010, quarta-feira, às 19 horas. AMANHÃ

Onde | Auditório da Livraria Cultura, Bairro do Recife

Promoção | Museu de Arte Popular – MAP

Quanto | Grátis

Informações | 3232-2803 / 3232-2969





Jamerson e o Morro

4 05 2010

Jamerson Kemps é professor da Faculdade Joaquim Nabuco. Fez sua graduação em História pela UFPE, e é Mestre em Antropologia pela mesma universidade. Esta formação é muito representativa em sua pesquisa, intitulada Nossa Senhora e o Morro da Conceição: História, Igreja e Comunidade Católica em Encontros e Desencontros, que trabalha o passado e o presente do Morro da Conceição, abençoado e observado pela grande estátua da Nossa Senhora da Conceição.

O interesse de Jamerson pela imagem da santa transcende a academia, atinge a sua identidade, como pernambucano e como religioso. Diante de um mundo plural, com transformações constantes, Jamerson observa no morro estas mudanças, enquanto também percebe as permanências na fé e nas relações humanas.

Abaixo, uma breve entrevista, concedida pelo Jamerson Kemps ao Museu de Arte Popular. Estas e outras respostas poderão ser amplamente discutidas, amanhã, às 19 horas, na Livraria Cultura, na Caminhos do santo | Diálogos IV…imagens.

1 –     De onde surgiu seu interesse pelo morro e pela estátua da Nossa Senhora da Conceição?

            Do ponto de vista científico-acadêmico, por conta das comemorações em torno do centenário da chegada da imagem da Conceição ao Morro [(1904-2004), ressalvando que o trabalho começou em 2005, quando do processo de seleção de mestrado e proveniente elaboração do projeto de pesquisa] mas também, devido a todas as circunstâncias históricas, políticas e socioculturais que envolvem a comunidade.

            Já do ponto de vista social, aproveito para parafrasear Gilberto Freyre, quando diz: ‘O recifense não está ligado às suas igrejas só por devoção aos santos, mas de um modo lírico, sentimental: porque se acostumou a voz dos sinos chamando para a missa, anunciando incêndio: porque no momento de dor ou de aperreio ele ou pessoa sua se pegou com Nossa Senhora, fez promessa, alcançou a graça; porque nas igrejas se casou, batizaram seus filhos e nestas estão enterrados avós queridos’ (Freyre, 2000:114).

2 –       Em sua pesquisa, Nossa Senhora e o Morro da Conceição: História, Igreja e Comunidade Católica em Encontros e Desencontros, você coloca a estátua da Nossa Senhora da Conceição como elemento chave na formação social e urbana da comunidade. Como se dá esta relação?

            Caso precisássemos responder de maneira concisa e direta (aos moldes do contemporâneo blog twitter), certamente, apresentaríamos tal relação a partir da constatação de uma atmosfera de tensões, disputas e arranjos em torno da imagem, originária dos diferentes pólos de vivência católica do Morro da Conceição. Para chegar a essa constatação, consideramos a existência de fatos históricos, políticos, socioreligiosos e simbólicos que terminaram por moldar a sociabilidade presente na comunidade.

            Históricos porque nos preocupamos em introduzir nossos leitores às mudanças urbanísticas pelas quais passou o morro desde a chagada da imagem de Nossa Senhora da Conceição, no ano de 1904, e que Consigo trouxe não só a propagação de Sua devoção, bem como, uma relação de controle eclesiástico sobre os fiéis por parte da Igreja Católica. Políticos e ideológicos, porque esta comunidade é um reflexo das ações desenvolvidas pela hierarquia eclesiástica que seguiu as orientações de duas correntes teológicas distintas oriundas do Concílio Vaticano II, e as colocou em prática com o trabalho de distintas lideranças em períodos distintos ao longo do último século. Considerados esses aspectos, pudemos melhor entender como a citada convivência socioreligiosa passou a se desenvolver sobre o formato de disputa entre o que classificamos como os três pólos de vivência católica, observando seus antagonismos, mas também, quais práticas socioreligiosas perpassam entre os mesmos. 

            Dessa forma, percebe-se que o primeiro pólo, praticante do Catolicismo Oficial, ver-se como agregador de outros católicos criando estratégias de persuasão sobre os membros do terceiro pólo. Contudo, depara-se com uma disputa interna por hegemonia, em que os diversos grupos que o compõe vêem-se como mais importantes que os demais e lutam pela atenção da paróquia. Diante disso, entre a disputa interna do primeiro pólo e sua tensa, porém dissimulada, disputa com o segundo pólo (apresentado na dissertação, como a Igreja de Resistência e Fé, e liderado pelo ex-pároco do Morro, Reginaldo Veloso), o terceiro pólo, caracterizado pelo Catolicismo Popular, parece se justapor aos demais, formando um dinâmico complexo de trocas simbólicas. Contudo, essa é uma prática silenciosa, não intencional, pois quando os fiéis do terceiro pólo dispensam as ações da igreja oficial, não se percebem inseridos em um cenário de confronto e disputa pela hegemonia, mas sim, por estarem dando continuidade as suas próprias práticas devocionais.  

            Aliado a estes aspectos, encontramos o simbolismo que circunda aqueles que vivem a comunidade católica estudada. Diante de tal conjuntura, preocupa-se a Igreja Católica em manter-se presente no cotidiano dos fiéis servindo-os como instrumento regulador da sua devoção religiosa, percebendo-se que esta preocupação existe desde a chegada da imagem, pois a instituição sempre procurou se fazer presente através de monumentos de destaque, como a antiga Torre e o atual complexo Santuário.

             Considerados estes fatores, passamos a refletir sobre a representação de Nossa Senhora da Conceição no imaginário de todos os seus devotos, perguntando-nos de que forma todo este processo influenciou e/ou influenciaria no aspecto de composição da sociabilidade entre os fiéis de cada pólo de devoção. Objetivamos entender se o simbolismo da representação de Nossa Senhora da Conceição, junto aos Seus fiéis católicos terminaria por agregar ou desagregar os que com Ela convivem.

            Concluímos que este simbolismo termina por promover um elemento de disputa na comunidade católica. O símbolo da Santa da Conceição termina por ‘agregar desagregando’, ou seja, sendo o centro do principal foco das atenções e devoção do Morro da Conceição, a imagem atrai e concentra seus variados fiéis, porém, disputada a exclusividade e legitimidade de Sua adoração, a Santa da Conceição termina por ver seu rebanho de católicos, paradoxalmente dividido, todavia, em uma mesma identidade católica, construindo na comunidade um estágio de vivência competitivo, em que acontecimentos do passado e do presente se confundem e influenciam um ao outro, impedindo desta maneira, a visualização de um futuro de sociabilidade religiosa com características de unificação e harmonia em tal comunidade de fiéis católicos.

3 –     O catolicismo popular possui vertentes e práticas peculiares. Diversos exemplos de práticas não reconhecidas pela igreja permanecem no seio do povo, tais como os ex-votos. Até mesmo excomungados como o Padre Cícero estão presentes na fé do povo. Diante desta “vida própria” do catolicismo popular, quais interpretações e visões da Nossa Senhora da Conceição você encontrou entre seus fiéis?

             Especificamente, àquela que a condiciona ao papel de Mãe. Diante de seu olhar complacente, o fiel católico, inevitavelmente deixa de entender que sua matriarca simboliza também a força Daquela que luta contra os agentes do mal, do pecado e/ou da injustiça. Pensada e executada minuciosamente a fim de atender à representação de seu simbolismo, a imagem de 3.50m de altura, que pesa 1.806 quilos com sua coroa de pedras, parece circundar e observar a todos, a todo instante. Ao refletir sobre a força da imagem de Nossa Senhora da Conceição no Morro, percebe-se que Ela está por todos os lados e parece estar sempre a observar todas as atitudes de seus devotos, quanto aos erros, acertos e pecados. A impressão que se tem é a de que a imagem fica à destacada distância do chão e tem sua complacente face voltada para baixo, ou seja, para a Terra, para o Morro da Conceição, para a Igreja, seus grupos e fiéis. 

4        – Que importância você atribui a religião como elemento de socialização, de consciência individual e coletiva?

 

 

             Citando Claude Lévi-Strauss (1986) e Clifford Geertz (1989), ‘a religião passa a ser a expressão da relação de distância que separa o que conhecemos do que ainda não conhecemos ou poderemos conhecer (…) uma perspectiva, uma organização cognitiva do mundo, entre outras possíveis (senso comum, ciência e estética), expressa em práticas e um conjunto de símbolos que dão sentido à existência e alivia o sofrimento’.

 

5        – Como as novas tecnologias interferiram no cenário religioso brasileiro? A queda no número de católicos, assim como o fortalecimento da Renovação Carismática tem relação direta com estas tecnologias?

 De um ponto de vista, direto, porém limitado, pode-se dizer que sim, também, mas não só por isso. Cecília Mariz (2001), por exemplo, lembra que ‘a modernidade trouxe sim, mudanças significativas no modo de viver a religião, mas também, estas transformações se desenvolveram de formas diferentes, pois, paralelo ao enfraquecimento institucional presenciado em alguns locais, também se observara novas formas institucionais de prática religiosa, e às vezes, grandes explosões de fervor religioso’. Não podemos deixar de ressalvar os efeitos causados pelos processos sociais desenvolvidos a partir das ideologias de racionalização e secularização, bem como, os atuais efeitos da globalização e pós-modernidade e sua proveniente desreferencialização sociocultural, para, a partir disso, tentarmos entender os efeitos das novas tecnologias sobre o sincrético, mas não necessariamente harmônico, campo religioso brasileiro.

Jamerson Kemps G. Moura | Mestrado em Antropologia (2008) e graduação em História (2004), pela Universidade Federal de Pernambuco, desempenhando a prática de ensino nas respectivas áreas de estudo e ciências afins. Defendeu a dissertação Nossa Senhora e o Morro da Conceição: História, Igreja e Comunidade Católica em Encontros e Desencontros, e atualmente é professor da Faculdade Joaquim Nabuco.





Caminhos do santo | Diálogos IV… imagens

3 05 2010

Seguindo nosso roteiro para 2010, chegamos ao Diálogos IV… imagens, que no dia 05 de Maio, através dos trabalhos da pesquisadora Maria Alice Amorim, do antropólogo Jamerson Kemps e do fotógrafo Marcelo Feitosa, abordaremos as relações de fé, devoção e representação envolvendo as romarias do Juazeiro do Norte, no Ceará e do Morro da Conceição, no Recife.

Maria Alice Amorim tratará da imagem construída sobre o Padre Cícero, na Literatura de Cordel(literatura à qual Maria ALice se dedica sendo uma das grandes autoridades no assunto).

Jamerson Kemps, com sua dissertação de mestrado, passará pelas relações de fé firmadas pelos devotos, igreja e imagem de Nossa Senhora da Conceição, nas festas e no cotidiano.

Entrelaçando as duas romarias, Marcelo Feitosa, com o Festa Santa, munido de imagens devocionais, ressaltando a (muitas vezes,  intrínseca) relação sagrado| profano.

O que | Caminhos do santo | Diálogos IV… imagens

Quando | 05 de Maio de 2010, quarta-feira, às 19 horas.

Onde | Auditório da Livraria Cultura, Bairro do Recife

Promoção | Museu de Arte Popular – MAP

Quanto | Grátis

Informações | 3232-2803 / 3232-2969

museudeartepopular@hotmail.com

Marcelo Couto Feitosa | Fotógrafo autodidata, premiado em Brasília, especializado em fotos digitais, com curso de tratamento digital, ministrado pela Cia. Da Foto (SP). Autor de projetos como Cuba, exibido durante a IV Mostra Recife de Fotografia e o Festa Santa, trabalho que compõe a mostra Caminhos do santo, no Museu de Arte Popular.

Jamerson Kemps G. Moura | Mestrado em Antropologia (2008) e graduação em História (2004), pela Universidade Federal de Pernambuco, desempenhando a prática de ensino nas respectivas áreas de estudo e ciências afins. Defendeu a dissertação Nossa Senhora e o Morro da Conceição: História, Igreja e Comunidade Católica em Encontros e Desencontros, e atualmente é professor da Faculdade Joaquim Nabuco.

Maria Alice Amorim | Natural de Juazeiro, Bahia, cresceu em Petrolina, Pernambuco. Vive no Recife, onde exerce o jornalismo especializado em reportagens culturais, colaborando em revistas e suplementos, e realizando conferências. Dedica especial atenção à poesia popular, à arte figurativa e aos folguedos populares. Da fusão desses temas surgiu o livro Carnaval – cortejos e improvisos (2002), em co-autoria com o pesquisador Roberto Benjamin. Publicou, em 2003, ensaio sobre arte popular na obra Pernambuco: cinco décadas de arte. É autora do ensaio Improviso: tradição poética da oralidade, que integra o livro Literatura e Música, co-edição do Itaú Cultural e editora Senac. Com pesquisa sobre as poéticas tradicionais do Nordeste brasileiro, defendeu dissertação de mestrado em Comunicação e Semiótica (PUC-SP) –  “No visgo do improviso ou A peleja virtual entre cibercultura e tradição” – , que saiu em 2009 pela Educ (PUC-SP).

Coordenação de Mesa

Fábio Carvalho |  História, UFPE.

Realização | Museu de Arte Popular

Apoio | Livraria Cultura





Um milagre em Paudalho

29 04 2010

O quê Gilberto Freyre, um dos maiores e mais influentes pensadores do século XX, e Aline Pereira, graduanda do curso de História da UFPE, têm em comum?

Além do óbvio interesse pelos estudos na área das humanidades, ambos tiveram o famoso Engenho Ramos, como parte de suas infâncias.

Aline nasceu e cresceu em Paudalho, ali, pertinho do engenho.

Sempre acompanhada de seu pai, que, como mercador, aproveitava as romarias e procissões para vender alguns produtos.

Visitava periodicamente o templo religioso do Engenho Ramos, onde um Severino, um cadáver milagroso, morava. O pai fechava negócios e ouvia causos. A filha contemplava tudo numa mistura de admiração e repúdio.

Hoje, anos mais tarde, Aline redescobriu sua infância, desta vez como objeto de pesquisa, com a ajuda da professora Sylvana Brandão, onde São Severino do Ramos é o tema central. Aline pode não ter se rendido aos milagres do santo de Paudalho, mas a presença constante da imagem em sua vida já pode ser contada como um dos pequenos milagres do São Severino.

1 – Por que São Severino do Ramos, e não São Severino dos Ramos?

São Severino do Ramos é chamado dessa forma devido ao local em que se encontrava  a imagem. Assim, as pessoas quando se referiam a ele, diziam é São Severino do  Engenho Ramos, logo tornou-se comum chamá-lo de  São Severino do Ramos. 

2 – Tendo nascido em Paudalho, ou seja, pertinho do Engenho Ramos, você poderia fazer uma breve análise de como este tema foi relevante em sua vida?

O Antigo Engenho Ramos esta localizado em Paudalho acerca de três quilômetros da minha casa e essa proximidade não é apenas física, mas acima de tudo emocional. Quando criança fui vários domingos ao santuário, mesmo indo por diversão presenciava as práticas dos romeiros, o que sempre me criou uma curiosidade. E, mesmo não as entendendo e até chegando a criticá-las, por eu ver nessas práticas devocionais uma forma pejorativa por me parecer um catolicismo arcaico e fanático. Contudo, atualmente enxergo essa jornada dos romeiros em busca do sagrado uma das expressões mais puras e singelas. Um fator que me aproximou do santuário, também foi o fato de meu pai desde jovem comercializar ou com antigos proprietários, ou com vendedores que comercializavam no santuário. Ele sempre teve o costume de conversar sobre hábitos e curiosidades em torno da imagem, tanto que alguns episódios os quais sei foi a partir de seus relatos. Essa proximidade me deu uma abertura com romeiros, moradores de Paudalho e antigos funcionários do engenho, assim me são possibilitados uma alta gama de relatos. 

3 – O turismo religioso é um grande motor econômico para cidades como Juazeiro. Discorra um pouco sobre esta afirmação utilizando o exemplo de Paudalho.

A romaria feita a São Severino do Ramos não é só um momento de comunhão entre o devoto e o Santo, mas também é uma forma de diversão e turismo para os participantes.       A ida ao santuário para alguns é uma forma de lazer, esses visitantes veem nessa jornada a possibilidade de diversão a partir da interação com os elementos profanos.  Entretanto, mesmo estes visitantes não se veem como turistas, mas sim como romeiros. O termo “turismo religioso” é utilizado no contexto político-administrativo institucional, o qual tem claro interesse econômico no Santuário e percebe neste espaço possibilidades reais dentro do contexto turístico. Diferente de outras áreas religiosas, como Juazeiro, os visitantes do santuário de São Severino do Ramos não ficam no local por mais de um dia, devido a falta de uma estrutura turística, e  essa é uma questão que está sendo muito discutida na atualidade.  O Santuário encontra-se dentro de um território particular e isso cria uma disputa em torno de seu controle.  O poder público procura uma forma de desapropriar e, por conseguinte tombá-lo como Patrimônio Cultural, enquanto os proprietários alegam possuir laços emocionais que não podem ser desfeitos.

4 – Diferentes abordagens e mitos surgem sobre quem foi aquele santo local, assim como novos milagres e narrativas diversas dão toques místicos a vida e aos poderes post-mortem daquela entidade. Levando em conta que São Severino do Ramos não é um santo oficial, ou sequer existe qualquer informação oficial sobre sua vida, como a imagem se tornou tão poderosa e representativa dentro do imaginário popular?

 

De acordo com a tradição oral, o santo milagroso teria sido trazido da Europa, como presente de um sacerdote a sua mãe, antiga proprietária do engenho. Desta forma, espalha-se a notícia na cidade que, no Engenho Ramos, jazia um cadáver milagreiro dentro de um caixão, levando assim pessoas à capela, a procura de seus poderes.

O homem se vê limitado diante do mundo, procurando colocar valor no sobrenatural. Acredita-se que este, por sua vez, facilitará sua vida. Quando o homem elege uma imagem como santa, é dado um valor de cura, de realização de milagres. Porém, existe uma troca entre o devoto e o santo. O devoto, quando recebe sua graça, cria uma conexão com seu protetor e quanto mais receber, mais acreditará na imagem; passando para outras pessoas que aquela imagem tem poderes e, consequentemente, o santo ganhará mais devotos. Ainda que não tendo sido canonizado pela hierarquia clerical, São Severino do Ramos já o foi pelas gentes de Paudalho, de Pernambuco bem como do Nordeste brasileiro. As devoções católicas no Brasil quase sempre nascem de forma espontânea, e com o seu ulterior crescimento, a Igreja Católica tenta disciplinar tais devoções e isto é observado em torno de São Severino do Ramos

5 – Como um santo dialoga com a realidade da população, através de seu nome, Severino?

Há várias possibilidades de fazermos essa analogia, porém eu entendo ser muito interessante fazê-la a partir do poema “Morte Vida Severina” de João Cabral de Melo Neto. Logo no início do poema o retirante quando se apresenta o faz da seguinte maneira:

— O meu nome é Severino,
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria.
 Posteriomente, o retirante elucida sobre os tantos Severinos: “Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar
algum roçado da cinza.
 

São Severino é mais um Severino sem identidade e origem, como tantos Severinos que formam o Brasil. Os romeiros elegeram São Severino do Ramos como seu protetor, como o herói que irá protegê-los de todos os males. Como elucidou Duby, “os mártires são em certa medida os sucessores dos heróis e, como estes, possuem uma coragem exemplar”. Nessa perspectiva o sertanejo identifica-se com o Santo por enxerga nele um guerreiro como ele próprio, ambos lutam a cada dia por sua sobrevivência.





Diálogos III…

15 04 2010

MUSEU DE ARTE POPULAR CONVIDA

 

O Museu de Arte Popular, vinculado à Fundação de Cultura da Cidade do Recife,  promoverá o terceiro encontro da série Caminhos do santo | Diálogos…, tendo como ponto de partida os assuntos suscitados na mostra Caminhos do santo, inaugurada no dia 21 de Dezembro de 2009.

Reconhecendo e afirmando o museu como um espaço de formação, colaboração e difusão de saberes, o museu apresentará neste terceiro encontro três trabalhos em construção, visando a divulgação, e ao mesmo tempo, o debate das idéias daqueles que trabalham a religiosidade e a cultura popular de Pernambuco e do Nordeste.

No dia 22 de Abril, às 19 horas, teremos: Caminhos do Santo | Diálogos III…peregrinações e cotidianos da fé: um beato, um santo e o homem. A palestra contará com a presença da pesquisadora Priscilla Quirino, mestranda em História na UFPE, que pesquisa a vida e o legado de Cícero José Farias , o Meu Rei, importante líder messiânico nordestino, fundador de uma seita(um beato). Também teremos Aline Pereira, integrante do grupo de pesquisa “História e Religiões” do CNPq/UFPE, que trabalha com a história do Engenho Ramos e toda a sua influência na política e religiosidade local, fundamentada no São Severino dos Ramos (um santo). E, ainda, o pesquisador Márcio Luna, Especialista em História do século XX, pela UFPE, que falará sobre a religiosidade no cotidiano do homem sertanejo a partir de seus estudos sobre  Luiz Gonzaga e o mundo que o cercou (o homem).

O que | Caminhos do santo | Diálogos III…peregrinações e cotidianos da fé: um beato, um santo e o homem.

Quando | 22 de Abril de 2010, quinta-feira, às 19 horas.

Onde | Auditório da Livraria Cultura, Bairro do Recife

Promoção | Museu de Arte Popular – MAP

Quanto | Grátis

Informações | 3232-2803 / 3232-2969

educativomap@hotmail.com   |  museudeartepopular@hotmail.com  |  

https://museudeartepopular.wordpress.com/

Serão emitidos certificados aos ouvintes

 

 

 

Márcio Luna | Especialista em História do Século XX pela UFPE, com pesquisa monográfica intitulada: (SER)TÃO NORDESTINO: A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE CULTURAL A PARTIR DA OBRA DISCOGRAFICA DO REI DO BAIÃO (1945-1956).Graduado em História pela UNICAP. Atualmente se debruça acerca das representações do Sertão Nordestino na música de Luiz Gonzaga, e desenvolve ações Educativas do Memorial Luiz Gonzaga.

Aline Pereira de Araújo | História, UFPE; Integrante dos Grupos de Pesquisa “História e Religiões”, do CNPq/UFPE, e “Gestão Pública e Espaços Público: conflitos e intolerância religiosa”, do MPANE/UFPE; Docente da Rede Estadual de Pernambuco;

Priscilla Pinheiro Quirino | Mestranda em História do Norte e Nordeste do Programa de Pós-Graduação da UFPE; formada pela UFPE como Bacharel em História. Linhas de Pesquisa: Religião e Religiosidades e Gestão Pública e Espaços Públicos: conflitos e intolerâncias. Faz parte do projeto de pesquisa “Gestão Pública e Espaços Públicos”, formado por uma equipe multidisciplinar dos mestrados de Gestão Pública da UFPE, de Ciências das Religiões da UFPB e de Ciências da Religião da UNICAP.

Coordenação de Mesa

Filipe Daniel Barreto |  Ciências Sociais, UFRPE.

Realização | Museu de Arte Popular

Apoio | Livraria Cultura